segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

After Party Special #1: Amour


O 85º Academy Award premiou, na noite de ontem, os melhores filmes do ano de 2012, em diversas categorias. Mas embora as estatuetas do Oscar já tenham sido entregues, muitos dos filmes citados não apareceram nas telas dos nossos cinemas (aqui em Mogi das Cruzes, apenas "As Aventuras de Pi" foi exibido), e são, para a galera amiga, nada mais do que uma hashtag desconhecida.

O "After Party Special" é um mini-projeto do Bolinho, que vai desenvolver, durante essa semana, pequenas análises dos filmes indicados à categoria de Melhor Filme do Ano, começando pela produção austríaca "Amour".



Se você não viu os filmes ainda, vale a dica. Se você já viu, está convidado a comentar minhas opiniões. Vamos lá!


#Amour

Um apartamento de aparência clássica e sofisticada é invadido por policiais. A intrusão é devida a uma denúncia, provavelmente de outro morador do prédio, o espectador ainda não sabe o motivo. Boa parte dos cômodos está vazio, mesmo os que estão cheios de mobília - esse espaço, penso eu, já começa a ditar o cerne de Amour. Uma porta (a do quarto) é deslacrada. Lá dentro, os policiais encontram o corpo de uma mulher de idade, visivelmente sem vida e em fase inicial de decomposição. Ao redor da cabeça da senhora estão dispostas flores, como uma coroa - uma despedida carinhosa.

Georges e Anne são músicos aposentados, já em idade avançada. Ele, aliás, arrasta uma das pernas, move-se vagarosamente e apresenta dificuldades ao levantar-se. Ela, que parece ser a mais disposta, é na verdade quem está prestes a adoecer.

Durante um café da manhã rotineiro, o casal conversa sobre obrigações, sobre onde está o sal e quais ligações precisam ser retornadas. No meio de uma frase, Anne congela. Não demonstra nenhum tipo de reação por vários minutos, enquanto Georges tenta "reanimá-la". Essa é a deixa para que ela seja levada ao médico e, nessa visita, descubra um bloqueio na aorta que precisa ser operado.

Quando a cirurgia dá errado, o casal precisa lidar com os efeitos da doença, com as limitações e com as escolhas pessoais de cada um deles.



Minhas considerações:

O filme levanta a discussão sobre a vida e o direito de morrer. Mesmo aposentada, Anne conserva em si as características de uma pianista clássica: centrada e objetiva. Quando se vê em um corpo parcialmente paralisado, percebe que toda a sua independência e objetivo na vida foram lhe arrancados. Naquele momento, ela decide que não há mais nada a fazer, além de morrer.

O conflito, porém, envolve mais do que ela e sua própria vontade. Georges é seu marido e, naturalmente, a ama. Mesmo sob a nova e triste realidade, ele - talvez por não ser quem sofre fisicamente com aquilo - não vê a situação sob a mesma ótica.

Para ele, ela sobreviveu a algo horrível. Para ela, a vida lhe tomou algo essencial.

O amor, do título, é a peça de conflito para Georges: por amor, deve ele aceitar a vontade que ela tem de morrer? Ou o amor que sente por ela o impede de abrir mão de sua existência?

O filme é bem denso e utiliza do silêncio e do som para ilustrar situações e sentimentos. Não é para todos os paladares, mas é uma boa experiência para quem gosta de refletir sobre a vida, a morte e tudo o que está entre essas duas coisas.

13 comentários:

  1. Um dos que está entre meus planos de atualização cinematográfica.

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  2. Esse filme me deu um pouco agonia, mais quero ver mais filmes nesse estilo, não acontece nada mais de repente acontece tudo kk

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  3. Não é o tipo de filme que eu escolheria para ver no domingo a tarde. Nem a noite. Nem nunca, na verdade. Passei por uma situação parecida com os meus avós (meu avô que morreu recentemente teve um avc dois anos atrás e ficou na cama, dependente de tudo...) e não acho que ver isso reproduzido na tela de maneira nenhuma me agradaria. Pode ser bom pra quem gosta de ter assunto morbido pra conversar na hora do almoço e estragar o apetite dos outros ou pra quem adora divagar sobre vida~morte~sofrimento alheio, mas pra quem já viveu de perto... é uma merda.

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    1. Bom, pra mim, cinema é como qualquer outro formato de arte: passa uma mensagem carregada do sentimento de quem o fez. Essa mensagem nem sempre é agradável, e nem sempre faz dar risada, mas muitas vezes é válida. Porém, nem todo mundo vê o cinema dessa forma, alguns buscam entretenimento, e nada tão intenso como o que esse filme passa. Não tem nada de errado nisso, mas também não desvalida o meu jeito de encarar as coisas.

      O filme não explora de forma desrespeitosa a doença e a situação, no geral, mas para quem já passou por isso é tortura e eu realmente não aconselho.

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  4. Exatamente, não desvalida o SEU jeito de encarar, como também não desvalida o MEU jeito.

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    1. Opinião é pessoal, e ninguém pode julgar ninguém.

      Já disse um monte de vezes que nem todo mundo tem profundidade pra interpretar "o que a pessoa que idealizou o filme queria passar exatamente com aquela lágrima que escorreu no segundo x"... por isso os filmes tem sinopses e trailers. Para que você possa optar ver ou não ver.

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  5. O que achei mais interessante é que o filme não se perde em questões politicamente corretas. Tudo está no ser "Sou capaz disso por amor? Isso é amor?" Gostei muito do filme e achei justíssimo ter levado como melhor filme estrangeiro.

    Aliás, primeira visita no blog. E gostei (:

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    1. Oi Natacha! Muito obrigada pela visita!

      Ainda quero assistir os outros filmes estrangeiros, como o "no", para poder concordar com essa afirmação de verdade, rs. Também gostei disso no filme - e uma coisa que não para de me surpreender em filme estrangeiro é a utilização do silêncio e do barulho como uma mensagem.

      Bem vinda ao blog :D

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  6. Esse, tecnicamente, é um dos filmes mais leves do Haneke. Ele explora algo simples e comum para a maioria das pessoas. Mas ainda assim não deixa de ser algo forte. Assim como a Lu, também passo por algo parecido com meus avós.
    É um filme difícil de esquecer, mas é um dos mais belos que vi. A Sra. Riva foi sensacional. Sensacional é pouco pra descrever a atuação dela.

    Ah, excelente post, Ju!

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    1. É, então. Apesar de ele ser forte, tem uma certa leveza ao tratar do tema. Havia mil formas dessa história se tornar visceral e não aconteceu.


      Ela foi perfeita. Mas eu concordo com a premiação da Jennifer - me julgue.

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  7. Sabe que eu me arrastei por esse filme e tal, achei difícil chegar até o final. Mas a cena final compensou tudo. Ficou perfeita. Não precisou de mais nada. :)

    Beijo!

    Raquel
    www.pipocamusical.com.br

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