terça-feira, 22 de outubro de 2013

O Oceano no Fim do Caminho, de Neil Gaiman



Eu não lembro exatamente porque minha mãe fez esse comentário, ou quando, mas ela disse que eu tenho uma relação simbiótica com a ficção. E eu tenho mesmo. Quando a Mônica abandonou o Sansão, eu mordi a revisitinha e me recusei a almoçar.

Eu sou intensa e tudo se condensa em sentimentos quando eu leio ou assisto algo com qual eu me conecto.

E a minha infância foi uma coisa bem difícil. Quer dizer, eu fui uma criança feliz e tudo. Eu me diverti e aproveitei e fui uma peste. Eu infernizei todo mundo que tinha que infernizar e consegui todas as cicatrizes que tinha que conseguir. Mas eu tinha alguns problemas.

Um deles era dormir.

Meus pais chamavam de terror da noite. Eu chamava de fantasmas. Acho que cada um tem um nome pra coisa, não é? Eles são psicólogos e tratavam do jeito que psicólogos tratariam. Eu era uma criança e tratei do jeito que uma criança trataria. Ficando aterrorizada e chorando. E gritando. E achando que o mundo ia acabar.

Eu estou contando isso porque mais uma vez essa coisa simbiótica fez um efeito do cão em mim, ao ler um livro de Neil Gaiman, dessa vez foi O Oceano no Fim do Caminho.

Eu peguei o livro no dia do meu aniversário, dia 27 de setembro.

A frase que inicia o livro é a seguinte.


Meus estímulos estavam estimulados e eu já estava ganha. O livro podia ser lido em uma sentada. Em uma golada só. Eu só precisava respirar Neil Gaiman por uma noite.

Mas isso não aconteceu. E eu culpo o excesso de expectativa. No final, tive que beber aos poucos do pote, entender devagar ao que ele tinha vindo e aceitar que, talvez, aquele livro não fosse contar a minha história, mas uma com a qual eu não tivesse intimidade, mas fosse ainda assim me identificar.

Foi esse o caso.

O protagonista – George – está tendo um dia difícil. Algo terrível aconteceu à sua família, mas a gente não sabe bem o que. Ele está de volta à cidade natal, dirigindo pelas ruas que costumava conhecer quando era criança. E então decide fazer algo que não deveria. Ele decide dirigir até a sua antiga casa. Ou até o lugar onde ela deveria estar.

Mas as lembranças não estão ali. E ele continua a dirigir. Ele vai até o final do caminho, até a fazenda das Hempstock, onde sua única amiga, a Lettie, morava. E então ele começa a lembrar.

Ele lembra de quando era pequeno. De quando era um garoto estranho e sem amigos. Que não praticava esportes e gostava mais da aventura quando estava nos livros. Quando o minerador de opalas alugou um quarto na casa de sua família. O quarto que deveria ser dele. E ele precisou dividir o de sua irmã, que preferia manter a porta fechada, ao invés de entreaberta, como ele.


Lettie gostava de dizer que o lago no fundo da casa era um oceano e George não lembra como podia ter acreditado naquilo, agora, olhando para o lago. Era apenas um lago.

Mas a história do minerador de opalas. Com dinheiro ganho. Dinheiro perdido.

Criaturas fantásticas e assustadoras.

E coisas que a gente não sabe, ou não deve saber, não antes do tempo.

Neil Gaiman tem um jeito de me lembrar de quem eu sou com alguns trechos tão simples e, por vezes, tão complexos, que eu fico imaginando se ele ainda sabe o que é ser criança. Se ele lembra como era. Se ele também sente falta. Se ele acha a vida adulta um pouco inadequada, assim como eu.

Eu não fiquei completamente satisfeita com o livro. E até isso eu achei perfeito. É isso que posso dizer. É uma história sobre ser criança. Sobre como as coisas que acontecem com a gente nos marcam e nos transformam em quem somos, mesmo que não lembremos delas.

É uma história sobre a gente mesmo, só que com outro nome, em outro lugar.


ISBN: 9788580573688
Skoob: Link
Editora: Intrinseca
Páginas: 208

ps: fotinhos de baixa qualidade, mas divertidas. foi o que consegui fazer com a vida do jeito que tá :3 saudades da minha câmera.

11 comentários:

  1. Parece interessante e ao mesmo tempo muito terrorista xD

    Gostei das fotos, mesmo que não sejam do jeito que você gosta *-*... Draco muito fotogênico, só faltou a roupinha do Batman =x

    Primeiro passo pra tornar tudo bom outra vez <3

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    1. Como assim terrorista XDDDD

      ta, ok, talvez seja um pouquinho.

      Me diverti tirando elas, o Draco é meu parceiro das fotos engraçadas.

      Primeiro passo :D
      E acho que tem mais um post essa semana, da segunda rodada do projeto de cartinhas. <3

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  2. Linda resenha... Eu li o livro, e não consegui por em palavas tao bem quanto você! E concordo até no ponto de nao ter ficado satisfeita, e a estranheza que isso causa encaixar tao bem quanto a sensação do livro! Parabéns, adorei!

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    1. Calma, então você gostou do livro ou não? rs

      Tou confusa.

      Obrigada pelo comentário <3

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  3. Adoro este seu cantinho de livros!!! E fiquei curiosa para ler o livro!!! :)

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  4. Fiquei pensando... "para uma das minhas amigas mais crianças que tenho, porque ela mergulha nas histórias mesmo, ter se sentido criança, sem ter recebido a carta de Hogwarts, é porque o livro conduz a um caminho que leva lá para trás e alguma coisa a mais tem. Além de um oceano no final!"
    Intrigante, porém mais suave desta vez que de outras. Talvez por se tratar de "ser criança" e por eu ter a minha criança muito forte e falante aqui dentro. O que de qualquer forma ainda me deixa pensando.
    Quero ler Jules! Conseguiu again! hahahaha.
    E o som como acompanhamento, muito certo, encaixado, mais uma vez.
    Thanks (:
    Saudações ao Draco londrino.

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    1. O lindo do livro está todo nos detalhes.
      Vou te emprestar :)

      Saudações!

      Beijins, Mi! <3

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  5. Eu lembro do dia que você pegou o livro e sobre todo esse lance das datas e a frase.
    E sei lá, só por ser o Gaiman já me dá uma vontade louca de ler.

    E adorei as fotos do Draco <3

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  6. Gostei do texto Ju, mas ao mesmo tempo fiquei com medo e "angustiado" xD não sei se é o tipo de livro que eu goste :P.

    Mas ótima matéria *-* Continue assim Ju o/

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  7. Adorei o texto! To louca pra ler esse livro, e agora fiquei com mais vontade ainda. Estou só esperando a grana chegar pra poder comprá-lo. Acho muito legal esse tipo de livro que toca a gente de alguma maneira, desperta sentimentos e tudo mais.

    http://oazuldaprussia.blogspot.com.br/

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